Era véspera de Natal.  As vitrines estavam cuidadosamente enfeitadas objetivando atrair a atenção dos transeuntes. As revistas de moda e os jornais falavam de receitas especiais, de enfeites criativos e das sugestões de presentes.

Nas ruas, uma legião de pessoas apressadas e eufóricas acotovelava-se observando vitrines e carregando sacolas com as compras para a grande data.  Sons natalinos surgiam de vários lugares.  Pairava no ar um sentimento especial. As crianças, devido à expectativa pela festa e à esperança de ganhar o presente desejado, vibravam de alegria.

Era um entardecer ensolarado de domingo. Em determinada residência, um garoto aproximou-se do pai que estava lendo, sentado numa poltrona, e perguntou: – Pai, o que é o Natal? E o pai respondeu rapidamente, sem aprofundar, pois não queria desviar a atenção da leitura. – Natal, filho, é o período de muitas e variadas festas.

Após meditar por alguns instantes, intrigado com a resposta, questionou novamente. – A vovó está preparando uma mesa deliciosa, com pratos que a mamãe diz que são especiais, as pessoas trocam presentes.  – Mas afinal, o que é Natal?  Inquiriu o menino, e o pai respondeu, sem tirar os olhos do livro.

– Ah! É a data da vinda do Papai Noel! Ele estava mais interessado na sua leitura. – Papai Noel? Falou o menino, que ficou a pensar, cheio de dúvidas…

Se a data era a vinda do Papai Noel, por que é que ele não aparecia para visitar em outras épocas? Onde ele mora? Por que todo mundo comemora e ele nunca vem verdadeiramente para fazer uma visita e confraternizar?  Por que nunca fomos visitá-lo?  Meditou por alguns instantes.

Estava intrigado e queria compreender melhor. Lembrou, então, que na escola a professora havia dito que quando estamos com dúvidas é bom usar o dicionário.  Foi o que fez, tirou-o da estante e começou a procurar…

– Humm… nata.. natação.. Natal! Achei!, é o lugar onde nasceu um indivíduo ou,??   Aniversário do nascimento de Jesus Cristo? Inquiridor, meditou nas propagandas vistas na TV e retornou à sala onde seu pai estava absorto na leitura e levantou a questão:  – Já sei quem é Papai Noel! O pai, distraído, perguntou:  – Quem? E continuou sua leitura.

– Um homem barbudo, gordo, muito rico, que gosta de festas com peru assado, de roupas vermelhas, e que dá muitos presentes, principalmente para as crianças. Seu nome era Jesus Cristo, mas passaram a chamá-lo carinhosamente de Papai Noel.

O pai deu um salto da poltrona e, boquiaberto, exclamou: – De onde você tirou estas besteiras? O filho, sem entender aquela reação, respondeu-lhe calmamente: – Do dicionário.

O pai largou o livro, pediu ao filho que lhe trouxesse o dicionário e lesse o significado da palavra Natal.  Após ouvir a leitura começou a concatenar as ideias para entender o que estava acontecendo. Sentou-se na poltrona e aconchegou o filho ao colo.  Confuso, passou as mãos na fronte, olhou para a criança e, percebendo a gravidade do momento, lhe disse:

– A humanidade preocupa-se muito com o Natal mas faz a comemoração errada. – Não entendi.  Respondeu o filho, fitando o pai com ar pensativo. – Vou explicar melhor, respondeu o pai: – O Natal, na verdade, é o dia em que comemoramos o nascimento de Jesus, é a data máxima dos cristãos, mas Ele não é o Papai Noel.

– Ainda não entendi. Falou o filho, com dificuldades para compreender.  O pai procurou juntar as ideias para ensinar corretamente, e falou: – Há dois mil anos, para alegria da humanidade terrestre, veio a Terra um Espírito muito evoluído chamado Jesus Cristo.  Ele tinha uma missão: ensinar à humanidade o amor a Deus e a todos, o perdão, o trabalho, a confiança em Deus, a caridade, a simplicidade…

Ele ensinou tanto que deu para escrever um grande livro que chamamos de Evangelho.  E tudo isso para fazer com que os homens mudassem de conduta, deixassem de serem orgulhosos, vaidosos ou indiferentes aos demais.

O filho fez um ar de quem estava entendendo, mas não tudo, e perguntou: – E Papai Noel? O pai fitou o horizonte pela janela, meditou por um instante e respondeu. – Certa vez um homem criou um personagem chamado Papai Noel, que, na data de 25 de dezembro saía num trenó puxado por renas, pelos campos cobertos de neve levando presentes para as crianças.

O garoto perguntou novamente: – E o aniversariante com o seu grande Livro, porque está esquecido no dia do seu aniversário? O pai, intrigado e comovido com as questões levantadas pelo filho, fitou novamente o horizonte e disse:

– A vontade daqueles que querem ganhar dinheiro é vender seus produtos.  Então, as propagandas que colocam nos jornais, nas revistas e na televisão confundem as pessoas.   A mensagem de Jesus fica abafada.  Para a maioria, filho, é mais fácil fazer uma grande festa e mais difícil seguir os ensinos do Livro porque o Livro ensina perdoar, amar, fazer caridade e ajudar os que sofrem… Isso dá muito trabalho…

O menino, com a ingenuidade comum às crianças, após compreender o que é o Natal, passou a pensar nos esclarecimentos de seu pai.  Num instante, seu semblante começou a expressar uma tristeza, estava pensando nos presentes, nas crianças, nas mães pobres que não podem dar presentes e em Jesus.  Condoeu-se. O ambiente estava em silêncio profundo. Pai e filho meditavam longamente. Após uma pausa a criança concluiu:

– Sabe, pai, agora compreendi que a pobreza tem também suas vantagens.  Para os pobres é mais fácil ficar com Jesus do que com o Papai Noel.  O pai ficou surpreso ouvindo o filho falar. –Como eles não têm condições de preparar uma mesa especial e dar presentes, acho que eles preferem ler o Livro de Jesus.

O pai olhou carinhosamente para o filho e, admirado, falou: – Querido, não é a riqueza nem a pobreza que fazem com que os homens leiam o Livro de Jesus, somente aqueles que estão conscientes é que procuram lê-Lo e praticá-Lo.  Fez-se um pequeno silêncio, o garoto fitou o semblante do pai com um sorriso puro e falou novamente:

– Então, nesta noite, para comemorarmos corretamente, vamos estudar um pouco do Livro de ensinamentos do aniversariante em homenagem a Ele e depois vamos festejar a data.  O pai, entendendo a pureza e a ingenuidade das crianças, abraçou o pequeno, beijou-o na face respondeu:

– Concordo. A partir de hoje, além da leitura do Livro, vamos fazer também uma prece.  Os dois sorriram.  O filho foi brincar e aquele homem ficou meditando enquanto fitava os últimos raios dourados do sol pela janela. Passaram-se as horas. No céu, as estrelas rutilantes pareciam querer despertar a humanidade para homenagear o aniversariante piscando ou fazendo riscas de luz.

Na mente daquele homem uma frase parecia ecoar repetidas vezes deixando-o intranquilo: “É mais fácil fazer uma grande festa e mais difícil seguir os ensinos do Livro porque o Livro ensina perdoar, amar, fazer caridade e ajudar os que sofrem… Isso dá muito trabalho…” Naquele silêncio, aproximava-se um som característico. Era o tilintar de sinos acusando a chegada da carruagem do Papai Noel…

(Texto recebido mediunicamente por Paulo Afonso Eberhardt, Ditado pelo Espírito Antonina  – Centro Espírita de Caridade Dias da Cruz – Passo Fu

Conversa de Natal
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